domingo, 30 de agosto de 2009

Acreditar sempre

É muito bom ser uma contadora de histórias, pois esta arte me possibilita ouvir as pessoas e aprender com o que estou ouvindo.
Em uma conversa com uma mãe que passa por um momento muito difícil que é a doença, muito séria, de seu filho pude entender um pouco mais sobre o que é este Ser-Mãe.
Ser mãe é acreditar sempre, e de uma forma tão intensa que nem a mais incrédula das pessoas pode duvidar da fé de uma mãe.E esta mãe a que me refiro é forte e não perdeu a capacidade de sorrir e me disse que, às vezes, quando está fraquejando, seu filho, com a inocente vontade das crianças de simplesmente querer viver, lhe convida para brincar e lhe sorri, pronto: o espinafre das mães: o sorriso de seu filho...
Então ela reafirma sua capacidade de ser Fênix e renasce das cinzas a cada sorriso para enfrentar toda e qualquer adversidade, acreditando sempre.
Obrigada pelo ensinamento.

Ilan Brenman é um contador de histórias fantástico!

Veja o vídeo e entenda porque conto histórias...



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quinta-feira, 27 de agosto de 2009


A casa das palavras


As palavras são livres,
Vivem em todo lugar:
Em nossas mentes,
No céu, na terra,
No mar e no ar.

Mas elas também
Têm um lugar para descansar
E ficar protegidas: O LIVRO.

Estar “no livro” é estar na morada das palavras.
E quando nós quisermos visitá-las,
Conversar, rir ou chorar com elas?
Basta abrir a porta do livro...
A porta da casa delas.

Quando abrir o livro,
Elas estarão lá, de braços abertos,
Prontas para nos receber.

E irão nos oferecer _sim, pois são muito educadas:
Realidade, fantasia,
Coisas nunca sonhadas,
E muita, muita poesia.

E quando formos embora
Nos dirão, já com saudade:
_Vá, mas volte a qualquer hora.

(Ana Selma Cunha - Este texto foi vencedor do concurso de Poesia “Ida Oliveira” /2005)

Cordel da memória

Ei, você, preste muita atenção:
Pois agora vou lhe dizer
Como em minha vida
Entrou das histórias a contação.

Meu pai, nordestino de nascimento
Muitas e muitas noites
Com versos de cordel
Fazia meu divertimento

Eram histórias fascinantes
De trancoso dizia ele ,
De mulheres tão arretadas
Que no diabo davam até nó
De homens tão espertos
Que aos que enganavam
Só restava a dó.

E as histórias ficaram
Durante algum tempo
Em mim caladas,
Até que alguém me disse:
Ei, acorda, história é pra ser contada!

E descobri em mim então
Um bicho que não se cala
Que entra por uma porta
E sai por outra
E se mostra pela fala.

E agora de conto em conto
Vivo aumentando um ponto
E se mais você quiser saber?
Deixa que depois eu te conto...


Ana Cunha

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

História que me emociona e motiva

A Moça Tecelã
Por Marina Colasanti


Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.


Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.


Marina Colasanti
(1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil.

Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora , Rio de Janeiro, 2000, uma colaboração da amiga Janaina Pietroluongo, da longínqua Oxford.

Eu

Sou mulher que chora com facilidade porque tenho a sensibilidade aflorada, sorrio com o vento e me revolto com as injustiças.
Assim vou tecendo esta teia tão complexa que é minha vida.
E é interessante ver como o meu tecido (incompleto), precisa estar ligado a tantas outras teias: das pessoas que consciente ou inconscientemente, fazem parte de minha vida e, a cada novo amanhecer
bordam um novo dia em todas suas nuances.
Sou uma contadora de histórias que tece o texto por meio da voz e me faço a cada dia no contato com ouvintes e com outros contadores que, atentamente, procuro ouvir para alimentar meu ofício.
Sou uma educadora que acredita na capacidade de evoluir dos seres humanos, justamente por meio da humanidade e respeito nas relações entre os indivíduos.
Sou uma mãe que procura, no dia- a-dia aprender com este ser lindo que gerei em meu ventre, e contribuir para que ele seja um ser Humano feliz.
Pretendo neste blog compartilhar um pouco de minhas vivências como mulher, mãe, contadora de histórias e educadora.