quinta-feira, 5 de novembro de 2009

DIÁLOGO DOS TAMBORES

Chama Verequete ooô
Chama Verequete ooô
O que está acontecendo?
Por que ele não responde?

Silêncio, tambores!
Parem todos os curimbós!
Cessem todos os atabaques!
Silêncio no Carimbó!

O rei está morto!
Não ouviremos sua voz forte,
Não veremos sua silhueta esguia,
Teremos agora no céu uma negra estrela guia.

Negra estrela guia...

Não permita que desistamos
Diante do preconceito
Para que sejamos como tu fostes:
Persistente.

Para que sejamos apaixonados
pela cultura,
identidade do povo. Que foi tua luta.

Tambores!

Soem o mais alto que puderem
Façam a Terra tremer!
Não podemos deixar
Do mestre, o ensinamento morrer!

Chama Verequete ooô...
(Ana Selma Cunha-
seguidora da negra estrela guia Verequete)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Sonhos e areia


Bater massa

Bater no desânimo

Misturar cimento e areia

Misturando dor e alegria

Não perder a medida da água

Perder água em forma de suor

Bater a massa sem parar

Parar para o almoço

Colocar a massa

Para dentro.

Distribuir

a massa

Afastar

cansaço

levantar

paredes:

erguer

s

o

n

h

o

s

.

(Ana Selma Cunha)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cavalheiro Andante

O cavalheiro ao qual me refiro é um encantador da palavra, é um ser mágico que recebeu uma missão muito especial de nossos ancestrais: contar histórias e plantar no coração dos seres humanos sua magia, não deixando que nos esqueçamos de alimentar o espírito com este alimento.
Quem me falou deste cavalheiro foi um ser humano especial que já conhecia o sabor das histórias e não tinha, e nem tem, a gula de se alimentar sozinha, sempre procura dividir, pois caso você leitor não saiba, quanto mais se divide as histórias que sabemos mais elas se multiplicam e dão mais frutos, então esta pessoa me fez conhecer, primeiro, o texto do cavalheiro.
Foi o pretexto que eu precisava para buscar mais, até que em uma oportunidade que se tornou um marco em minha vida, pude conhecer pessoalmente este Cavalheiro, que é também cavaleiro andante das palavras e sai pelo mundo falando de seu oficio, "oficinando" com pessoas diversas ensinando e aprendendo.Pude ouvir de sua boca, palavras que eu já havia lido em seus livros e , pude conhecer o ser humano que este cavalheiro é, e plantamos então a semente da amizade que é delicada e precisa de muitos cuidados e, mesmo à distância, vez por outra, entre uma oficna, palestra, feiras de livros, tecitura de novos livros, lançamentos e etc, nos falamos graças aos meios eletrônicos da vida e regamos o que espero ser um dia uma árvore frondosa e bela: nossa amizade. Guardo este cavalheiro em um lugar especial do meu coração, é um querido amigo.
Encante-se um pouco com este cavalheiro também, veja o vídeo do YOU TUBE, onde ele fala de seu ofício de contador de histórias:


A beleza da poesia de Cecília Meireles

Motivo (Cecília Meireles)

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada.


Esta poesia é um banho de beleza para a vida, desde que a li pela primeira vez fiquei apaixonada de tal forma que a guardei em meu coração e ofereço a todos que acessarem este blog, com o forte desejo de que ela lhes faça ver sempre a beleza da vida.

domingo, 30 de agosto de 2009

Acreditar sempre

É muito bom ser uma contadora de histórias, pois esta arte me possibilita ouvir as pessoas e aprender com o que estou ouvindo.
Em uma conversa com uma mãe que passa por um momento muito difícil que é a doença, muito séria, de seu filho pude entender um pouco mais sobre o que é este Ser-Mãe.
Ser mãe é acreditar sempre, e de uma forma tão intensa que nem a mais incrédula das pessoas pode duvidar da fé de uma mãe.E esta mãe a que me refiro é forte e não perdeu a capacidade de sorrir e me disse que, às vezes, quando está fraquejando, seu filho, com a inocente vontade das crianças de simplesmente querer viver, lhe convida para brincar e lhe sorri, pronto: o espinafre das mães: o sorriso de seu filho...
Então ela reafirma sua capacidade de ser Fênix e renasce das cinzas a cada sorriso para enfrentar toda e qualquer adversidade, acreditando sempre.
Obrigada pelo ensinamento.

Ilan Brenman é um contador de histórias fantástico!

Veja o vídeo e entenda porque conto histórias...



Clique aqui para ir para o Youtube.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009


A casa das palavras


As palavras são livres,
Vivem em todo lugar:
Em nossas mentes,
No céu, na terra,
No mar e no ar.

Mas elas também
Têm um lugar para descansar
E ficar protegidas: O LIVRO.

Estar “no livro” é estar na morada das palavras.
E quando nós quisermos visitá-las,
Conversar, rir ou chorar com elas?
Basta abrir a porta do livro...
A porta da casa delas.

Quando abrir o livro,
Elas estarão lá, de braços abertos,
Prontas para nos receber.

E irão nos oferecer _sim, pois são muito educadas:
Realidade, fantasia,
Coisas nunca sonhadas,
E muita, muita poesia.

E quando formos embora
Nos dirão, já com saudade:
_Vá, mas volte a qualquer hora.

(Ana Selma Cunha - Este texto foi vencedor do concurso de Poesia “Ida Oliveira” /2005)

Cordel da memória

Ei, você, preste muita atenção:
Pois agora vou lhe dizer
Como em minha vida
Entrou das histórias a contação.

Meu pai, nordestino de nascimento
Muitas e muitas noites
Com versos de cordel
Fazia meu divertimento

Eram histórias fascinantes
De trancoso dizia ele ,
De mulheres tão arretadas
Que no diabo davam até nó
De homens tão espertos
Que aos que enganavam
Só restava a dó.

E as histórias ficaram
Durante algum tempo
Em mim caladas,
Até que alguém me disse:
Ei, acorda, história é pra ser contada!

E descobri em mim então
Um bicho que não se cala
Que entra por uma porta
E sai por outra
E se mostra pela fala.

E agora de conto em conto
Vivo aumentando um ponto
E se mais você quiser saber?
Deixa que depois eu te conto...


Ana Cunha

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

História que me emociona e motiva

A Moça Tecelã
Por Marina Colasanti


Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.


Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.


Marina Colasanti
(1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil.

Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora , Rio de Janeiro, 2000, uma colaboração da amiga Janaina Pietroluongo, da longínqua Oxford.

Eu

Sou mulher que chora com facilidade porque tenho a sensibilidade aflorada, sorrio com o vento e me revolto com as injustiças.
Assim vou tecendo esta teia tão complexa que é minha vida.
E é interessante ver como o meu tecido (incompleto), precisa estar ligado a tantas outras teias: das pessoas que consciente ou inconscientemente, fazem parte de minha vida e, a cada novo amanhecer
bordam um novo dia em todas suas nuances.
Sou uma contadora de histórias que tece o texto por meio da voz e me faço a cada dia no contato com ouvintes e com outros contadores que, atentamente, procuro ouvir para alimentar meu ofício.
Sou uma educadora que acredita na capacidade de evoluir dos seres humanos, justamente por meio da humanidade e respeito nas relações entre os indivíduos.
Sou uma mãe que procura, no dia- a-dia aprender com este ser lindo que gerei em meu ventre, e contribuir para que ele seja um ser Humano feliz.
Pretendo neste blog compartilhar um pouco de minhas vivências como mulher, mãe, contadora de histórias e educadora.